quinta-feira, 27 de setembro de 2012

Amizade- Clavio Jacinto


A amizade
é um mistério
transforma pessoas
distantes em muito proximas...
A indiferença tambem é
transforma pessoas
tão proximas,
em tão distantes...

RIO MEARIM - Fontoura Chaves




Gosto de estar, à beira desse rio, 
Horas e horas, do alto da barreira, 
Vendo-o que passa, alígero e sombrio, 
Varando a mata, em fora, na carreira.

Léguas e léguas que percorra a fio, 
Nesse rincão da pátria brasileira, 
Passa beijando o babaçu bravio, 
Que explode a esmo, à flor da terra inteira.

Nas noites lindas, no silêncio, quando 
O céu se inclina, entristecido e brando,  
E a lua cheia nasce atrás da mata.

Oh! como é lindo o Mearim gigante, 
Sob as carícias da palmeira arfante, 
Na sinfonia dos caudais de prata.

Fontoura Chaves

domingo, 23 de setembro de 2012

Três cantos - Casimiro de abreu


Quando se brinca contente
Ao despontar da existência
Nos folguedos de inocência,
Nos delírios de criança;
A alma, que desabrocha
Alegre, cândida e pura -
Nessa contínua ventura
É toda um hino: - esperança!
Depois... na quadra ditosa,
Nos dias da juventude,
Quando o peito é um alaúde,
E que a fronte tem calor;
A alma que então se expande
Ardente, fogosa e bela -
Idolatrando a donzela
Soletra em trovas: - amor!
Mas quando a crença se esgota
Na taça dos desenganos,
E o lento correr dos anos
Envenena a mocidade;
Então a alma cansada
Dos belos sonhos despida,
Chorando a passada vida -
Só tem um canto: - saudade!
Casimiro de abreu

sábado, 22 de setembro de 2012

Canção do dia de sempre - Mário Quintana


Tão bom viver dia a dia... 
A vida assim, jamais cansa... 

Viver tão só de momentos 
Como estas nuvens no céu... 

E só ganhar, toda a vida, 
Inexperiência... esperança... 

E a rosa louca dos ventos 
Presa à copa do chapéu. 

Nunca dês um nome a um rio: 
Sempre é outro rio a passar. 

Nada jamais continua, 
Tudo vai recomeçar! 

E sem nenhuma lembrança 
Das outras vezes perdidas, 
Atiro a rosa do sonho 
Nas tuas mãos distraídas... 

Mário Quintana 

In Palavras na Penumbra - Renato Tapado


Acendo a cigarrilha e me preparo,
diante desse mar azul e frio,
para enfrentar o tempo sem amparo,
só um caminho, instável como um rio.

Abro o caderno, a página vazada
de esperas e de ausências, desmesura
sem essa estrela que, na noite, alada,
disponha sua marca negra e impura.

Grafo sinais, me esqueço nessa hora
que se estende, inexoravelmente,
sobre mim, a jogar sílabas fora.

Olho o horizonte, um albatroz vislumbra
o peixe que saciará sua fome –
e eu devoro palavras na penumbra.

Renato Tapado
In Palavras na Penumbra

Amor - Álvares de Azevedo


Amor

Amemos! Quero de amor 
Viver no teu coração! 
Sofrer e amar essa dor 
Que desmaia de paixão! 
Na tu’alma, em teus encantos 
E na tua palidez 
E nos teus ardentes prantos 
Suspirar de languidez! 

Quero em teus lábio beber 
Os teus amores do céu, 
Quero em teu seio morrer 
No enlevo do seio teu! 
Quero viver d’esperança, 
Quero tremer e sentir! 
Na tua cheirosa trança 
Quero sonhar e dormir! 

Vem, anjo, minha donzela, 
Minha’alma, meu coração! 
Que noite, que noite bela! 
Como é doce a viração! 
E entre os suspiros do vento 
Da noite ao mole frescor, 
Quero viver um momento, 
Morrer contigo de amor!


Bee Gees (6/32) - Palavras


Reflexões - Ana Jácomo

"Encontros preciosos não são necessariamente os que nos trazem
jardins já floridos. São, um bocado de vezes, aqueles que nos
ofertam mudas."
Ana Jácomo

domingo, 16 de setembro de 2012

Canção quase inquieta - Cecília Meireles


De um Lado, a eterna estrela
e do outro a vaga incerta,
meu pé dançando pela
extremidade da espuma,
e meu cabelo por uma
planície de luz deserta.
Sempre assim:
de um lado, estandartes do vento …
- do outro, sepulcros fechados.
E eu me partindo, dentro de mim,
para estar ao mesmo momento
de ambos os lados.
Se existe a tua Figura,
se és o Sentido do Mundo,
deixo-me, fujo por ti,
nunca mais quero ser minha!
(Mas, neste espelho, no fundo
desta fria luz marinha
como dois baços peixes,
nadam meus olhos à minha procura …
Ando contigo — e sozinha.
Vivo longe — e acham-me aqui…)
Fazedor da minha vida,
não me deixes!
Entende a minha canção!
Tem pena do meu murmúrio,
reúne-me em tua mão!
Que eu sou gota de mercúrio
dividida,
desmanchado pelo chão … 
                                           Cecília Meireles 

Retrospectiva - Flora Figueiredo


Porque a vida é feita de proibições, 
eu não compus todas as canções, 
não percebi a brisa suspirar, 
eu esqueci cantigas de ninar, 
dei chances demais à voz dos credos, 
não rompi de vez todos os medos, 
roubei do tempo um tanto de carinho, 
não vi a flor amar o passarinho, 
perdi o trem na curva da vertente 
e não deixei o mel melar completamente. 

Porque a vida é feita de proibições, 
larguei o fio, soltaram-se os balões, 
deixei que o pião revirasse sozinho, 
mandei que o zangão se zangasse baixinho, 
desprezei a bruma que baixou o véu, 
permiti à palavra dormir no papel, 
evitei o desvio que atravessa a estrada, 

Não quis o desafio da ronda embriagada, 
não li o poema do poeta maldito 
e não tive o dilema do beijo infinito. 

Porque ainda há tempo para o encantamento, 
quebre-se o vidro do sermão absoluto, 
rompa-se a teia, reveja-se o estatuto, 
que a primavera quer amar o chão de vento. 

(Flora Figueiredo )

sexta-feira, 14 de setembro de 2012

INSTANTE DE REFLEXÃO - (Regis Assunção – 13/09/2012)



Aceitar que a vida em si, pode mostrar determinadas faces e que não são aceitáveis, logo de imediato. Isto porque, nem tudo é apresentado de maneira agradável, permanentemente; e há controvérsias originárias de inúmeras causas. E são elas refletidas no quotidiano ou não especificamente; podem até ocorrer, isoladamente, no que se refere a envolver partes distintas. 
É este um processo que deveria sim, passar por tratamento adequado e especial; no que se refere a uma disparidade, em nível cultural e que envolve; o quesito entendimento mútuo, nas questões mais importantes via conhecimento, por meio de determinadas informações. 
(Regis Assunção – 13/09/2012)

quinta-feira, 13 de setembro de 2012

Meditação à beira de uma roseira - Adélia Prado


Podei a roseira no momento certo
e viajei muitos dias,
aprendendo de vez
que se deve esperar biblicamente
pela hora das coisas.
Quando abri a janela, vi-a,
como nunca a vira
constelada,
os botões,
alguns já com rosa-pálido
espiando entre as sépalas,
jóias vivas em pencas.
Minha dor nas costas,
meu desaponto com os limites do tempo,
o grande esforço para que me entendam
pulverizam-se
diante do recorrente milagre.
Maravilhosas faziam-se
as cíclicas perecíveis rosas.
Ninguém me demoverá
do que de repente soube
à margem dos edifícios da razão:
a misericórdia está intacta,
vagalhões de cobiça,
punhos fechados,
altissonantes iras,
nada impede ouro de corolas
e acreditai: perfumes.
Só porque é setembro.

Adélia Prado

O amor no éter - Adélia Prado


Há dentro de mim uma paisagem 
entre meio-dia e duas horas da tarde. 
Aves pernaltas, os bicos mergulhados na água,  
entram e não neste lugar de memória, 
uma lagoa rasa com caniço na margem. 
Habito nele, quando os desejos do corpo, 
a metafísica, exclamam: 
como és bonito! 
Quero escrever-te até encontrar 
onde segregas tanto sentimento. 
Pensas em mim, teu meio-riso secreto 
atravessa mar e montanha, 
me sobressalta em arrepios, 
o amor sobre o natural. 
O corpo é leve como a alma, 
os minerais voam como borboletas. 
Tudo deste lugar 
entre meio-dia e duas horas da tarde.
Adélia Prado

Vivência - Adalgisa Nery


Começamos a viver
Quando saímos do sono da existência,
Quando as distâncias se alongam nas partículas do corpo.
Começamos a viver
Quando confusos e sem consolo
Não sentimos os traços do irmão perdido.
Quando antes da força
Surge a sombra do insignificante.
Quando o sono é transformado em sonhos superados,
Quando o existir não é contradição.
Começamos a viver
Quando percebemos a mutação das células,
Quando fugimos de dentro de nós mesmos
E escondemos a nossa carne num caramujo oco.
Quando o espírito falsificado esquece
As tortuosas estradas
E quando deixamos de ser escaravelhos laboriosos.
Começamos a viver
Quando velamos além do sono
A vida irreal dos nossos passos.
Adalgisa Nery In Erosão



Eu te amo - Adalgisa Nery



Eu te amo
Antes e depois de todos os acontecimentos
Na profunda imensidade do vazio
E a cada lágrima dos meus pensamentos.

Eu te amo
Em todos os ventos que cantam,
Em todas as sombras que choram,
Na extensão infinita do tempo
Até a região onde os silêncios moram.

Eu te amo
Em todas as transformações da vida,
Em todos os caminhos do medo,
Na angústia da vontade perdida
E na dor que se veste em segredo.

Eu te amo
Em tudo que estás presente,
No olhar dos astros que te alcançam
Em tudo que ainda estás ausente.

Eu te amo
Desde a criação das águas,
desde a idéia do fogo
E antes do primeiro riso e da primeira mágoa.

Eu te amo perdidamente
Desde a grande nebulosa
Até depois que o universo cair sobre mim
Suavemente.

Adalgisa Nery

Vozes Do Mar - Florbela Espanca




Quando o sol vai caindo sobre as águas
Num nervoso delíquio d’oiro intenso,
Donde vem essa voz cheia de mágoas
Com que falas à terra, ó mar imenso?…


Tu falas de festins, e cavalgadas
De cavaleiros errantes ao luar?
Falas de caravelas encantadas
Que dormem em teu seio a soluçar?


Tens cantos d’epopeias?Tens anseios
D’amarguras? Tu tens também receios,
Ó mar cheio de esperança e majestade?!


Donde vem essa voz,ó mar amigo?…
… Talvez a voz do Portugal antigo,
Chamando por Camões numa saudade!

Florbela Espanca Trocando olhares - 17/06/1916

Confissão - Florbela Espanca


Aborreço-te muito. Em ti há qualquer cousa
De frio e de gelado, de pérfido e cruel,
Como um orvalho frio no tampo duma lousa,
Como em doirada taça algum amargo fel.

Odeio-te também. O teu olhar ideal
O teu perfil suave, a tua boca linda,
São belas expressões de todo o humano mal
Que inunda o mar e o céu e toda a terra infinda.

Desprezo-te também. Quando te ris e falas,
Eu fico-me a pensar no mal que tu calas
Dizendo que me queres em íntimo fervor!

Odeio-te e desprezo-te. Aqui toda a minh’alma
Confessa-to a rir, muito serena e calma!
……………………………………………………..
Ah, como eu te adoro, como eu te quero, amor!…

Florbela Espanca - Trocando olhares - 03/07/1916

domingo, 9 de setembro de 2012

As Vezes - (Paulo Coelho)


As Vezes
Deus costuma usar a solidão para nos ensinar sobre a convivência

Às vezes, usa a raiva, para que possamos compreender o infinito valor da paz. Outras vezes usa o tédio, quando quer nos mostrar a
importância da aventura e do abandono.

Deus costuma usar o silêncio para nos ensinar sobre a responsabilidade do que dizemos. Às vezes usa o cansaço, para que possamos compreender o valor do despertar. Outras vezes usa doença, quando quer nos mostrar a importância da saúde.
Deus costuma usar o fogo, para nos ensinar sobre água. Às vezes, usa a terra, para que possamos compreender o valor do ar. Outras vezes usa a morte, quando quer nos mostrar a importância da VIDA.
(Paulo Coelho)

sábado, 8 de setembro de 2012

A UM AUSENTE- (Carlos Drummond de Andrade)


A UM AUSENTE 

Tenho razão de sentir saudade, 
tenho razão de te acusar. 
Houve um pacto implícito que rompeste 
e sem te despedires foste embora. 
Detonaste o pacto. 
Detonaste a vida geral, a comum aquiescência 
de viver e explorar os rumos de obscuridade 
sem prazo sem consulta sem provocação 
até o limite das folhas caídas na hora de cair. 

Antecipaste a hora. 
Teu ponteiro enlouqueceu, enlouquecendo nossas horas. 
Que poderias ter feito de mais grave 
do que o ato sem continuação, o ato em si, 
o ato que não ousamos nem sabemos ousar 
porque depois dele não há nada? 

Tenho razão para sentir saudade de ti, 
de nossa convivência em falas camaradas, 
simples apertar de mãos, nem isso, voz 
modulando sílabas conhecidas e banais 
que eram sempre certeza e segurança. 

Sim, tenho saudades. 
Sim, acuso-te porque fizeste 
o não previsto nas leis da amizade e da natureza 
nem nos deixaste sequer o direito de indagar 
porque o fizeste, porque te foste 

(Carlos Drummond de Andrade) 

quinta-feira, 6 de setembro de 2012

Eu teria


Eu teria te amado por todas as noites...

Eu teria velado seu sono...

Eu teria te beijado por um dia inteiro...

Eu teria te dado colo em todos momentos tristes...

Eu teria te esquentado todas as madrugadas frias...

Eu teria envelhecido com você...

Eu teria te abraçado e te dito que te amo por cada segundo que eu vivesse...

Teria te amado ate o amanhecer de cada dia...

Eu teria vivido sempre ao seu lado, escutando cada batimento do seu coração, cada suspirar seu... Eu seria feliz em ter você como meu respirar, como minha vida, como meu futuro, como pai dos meus filhos...

Você foi meu sonho, meu ar, você foi minha vida... 

Autor Desconhecido

quarta-feira, 5 de setembro de 2012

Não espere que eu fale - Eriko Alvym



NÃO ESPERE que EU FALE 
num pântano de carinhos e estrelações meigas. 
Teus feitiços clareiam a noite e sinfonizam 
a nudez dos corpos estatuados. Teus beijos 
são leões amorosos. Teu mar um película 
de erotismo sobre céu vivo. Ah! este céu 
que a terra há de comer, mas é inexpugnável 
(por enquanto, pois está próxima a Grande Festa) 
Na calçada do universo os homens esperam 
a condução pelos tempos enquanto assistem 
o órgão flamejante da guerra 
destruindo o mundo 
num acorde de chispas 
canibais 
Não espere que eu fale meu silêncio é alarme 
na busca do intraduzível, da Essência-Mestra 
É minha forma de viver a vontade de bater 
meu coração dentro do teu peito 
ter você no sol dos meus anseios 
teu silêncio pousado em meu silêncio 

(1.981) 

ERIKO ALVYM 

DON'T LET ME DOWN - THE HOLLIES - (1974) - SONHO

“ “ Sonho com um  amor  em que duas pessoas compartilham uma paixão de buscar juntas uma verdade mais elevada. Talvez não devesse cha...